Alimentos funcionais – O que são e para que servem

 Conhece a verdadeira definição Alimentos Funcionais – O que são e para que servem?

Se tem interesse por alimentação saudável e vai acompanhando as notícias sobre o tema, certamente que a expressão não lhe é nova.

Alguns componentes dos alimentos, tradicionalmente não considerados nutrientes, podem proporcionar benefícios específicos à saúde, redução do risco de doenças, efeitos específicos sobre o organismo, para além do seu aporte de energia e nutrientes.

Geralmente associados à nutrição funcional ou medicina de estilo de vida (Lifestyle Medicine), quando bem utilizados e combinados podem ajudar a prevenir, controlar e tratar vários tipos de patologias. Podem ainda ser excelentes aliados à função cognitiva, redução do stress, melhoria do sono, rendimentos desportivo, ter um efeito anti-aging entre muitos outros benefícios.

Conheça um pouco mais sobre estes alimentos e  o muito que podem fazer pela sua saúde.

Conteúdo do artigo

Introdução - Definição de Alimentos Funcionais

A definição de alimentos funcionais com maior aceitação é a do ILSI Europe (International Life Sciences Institute) no documento de consenso Functional Food Science in Europe.

Alimento funcional é todo alimento que comprovou que produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde quando consumido usualmente, devendo ser seguro para o consumo, acompanhado por hábitos saudáveis. 

É preciso ter consciência de que, para que seus benefícios sejam alcançados, é preciso consumi-los de forma específica e regular. Não é a ingestão ocasional de alimentos funcionais que vai resolver uma doença crónica.

Pode ser um alimento natural ou processado apresentando características que podem proporcionar benefícios para prevenção ou promoção da saúde.

O termo “alimentos funcional” foi utilizado pela primeira vez no Japão, em meados da década de 80 do século XX, referindo-se aos alimentos, naturais ou processados,  que contêm ingredientes que auxiliam em funções especificas do corpo, além de serem nutritivos.

Denominados como Foshu, ou “Foods for Specified Health Use” (Alimentos Funcionais ou Nutracêuticos, na tradução para o português), eles apresentam um selo de aprovação do Ministério da Saúde e Bem-Estar do país oriental. Atualmente, esses produtos estão presentes em vários países, enquadrados em suas legislações específicas.

Os alimentos e ingredientes funcionais podem ser classificados de dois modos: 

  • Quanto à fonte – de origem vegetal ou animal
  • Quanto aos benefícios que oferecem, atuando em seis áreas do organismo:
    • no sistema gastrointestinal
    • no sistema cardiovascular
    • no metabolismo de substratos
    • no crescimento e desenvolvimento
    • diferenciação celular no comportamento das funções fisiológicas
    • como antioxidantes

Uma nova abordagem aos Alimentos Funcionais

Vimos já as definições oficiais e legais sobre o que são alimentos funcionais, apesar de eu achar que esta devesse ser mais completa.

Assim, na minha abordagem e contexto de Medicina Integrada Funcional e Lifestyle Medicine, utilizo um conceito um pouco mais alargado das potencialidades dos alimentos funcionais, respeitando a definição que:

… é um alimento que  produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde…

E porque dou recomendações ao nível de rotinas diárias, exercício, gestão do stress, etc., também presto atenção a alimentos que têm propriedades e compostos com ações mais específicas, como a produção e libertação de neurotrasmissores e hormonas. 

Por exemplo, o cacau, rico em triptofano vai contribuir para a síntese da sorotonina e melatonina, podendo ter uma influência sobre a ansiedade, apetite e mesmo qualidade do sono.

Já o fígado de vaca, que a seguir ao leite materno é o alimento com maior densidade nutricional que existe, pode fornecer grande parte dos nutrientes essenciais necessários, desde aminoácidos, ferro, folato, vitamina b12, e muitos outros. 

A proteina whey isolada  promove a libertação de colecistocinina (CCK) e peptídeo YY (PYY) que vão modular os sinais sensoriais, cognitivos, pós-ingestivos e pós-absortivos, determinando a sensação de saciedadeIsto claro, além de favorecer a manutenção ou aumento de massa muscular. 

Estendo ainda o conceito a “receitas funcionais” as quais combinam um ou mais alimentos funcionais de forma sinérgica, compondo uma refeição com benefícios específicos sobre a saúde, alem do fornecimento de energia e nutrientes essenciais. 

Por exemplo, a forma de cozinhar o tomate pode aumentar a concentração e biodisponibilidade dos carotenoides como o licopeno, com propriedades antioxidantes e anti-cancerígenas.

São conhecidos por exemplo os benefícios do caldo de ossos (bone broth), uma verdadeira receita funcional do tempo dos nossos antepassados.  

Ou como a combinação de alimentos ricos em ferro com vitamina C aumenta a fixação do ferro.

Este tema é por só motivo para um novo artigo.

Alegações e cuidados

A preocupação actual com a saúde torna os consumidores mais vulneráveis a mensagens enviesadas nas quais se exaltem determinadas propriedades de um alimento, ou ingrediente, separando-os do contexto normal da dieta e do estilo de vida.

É necessário comprovar a eficácia destes produtos e evitar declarações falsas ou exageradas sobre as suas propriedades, com risco de consumos exagerados, ou de descuido da terapêutica farmacológica.

Num outro artigo abordei a questão do “mito do detox” e de como o marketing e a falta de legislação leva a um exagero nas alegações de benefícios. 

De igual forma, hoje o termo “funcional” vende por si, sem que as pessoas saibam na realidade o que significa.

Medicina funcional, nutrição funcional, refeições funcionais, exercício funcional… O termo está a atingir uma saturação que pode levar a que se perca parte do seu significado original.

A promoção dos efeitos benéficos de um alimento funcional tem sido feita através de alegações, por vezes exageradas, incluídas nos rótulos ou publicidade.

Nos países da União Europeia, o Regulamento CE 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, estabeleceu a regulação específica relativa às alegações nutricionais e de propriedades saudáveis dos alimentos, podendo diferenciar-se diferentes tipos de alegações – nutricionais e de saúde, que por sua vez podem ser de propriedades saudáveis, ou de redução do risco de doença.

Componentes funcionais

Irei em seguida descrever sucintamente alguns dos componentes funcionais mais reconhecidos. Esta lista abaixa não é extensiva, mas sim um resumo dos componentes mais importantes.

  • Probióticos – Designa os microrganismos que sobrevivem à passagem pelo trato gastrointestinal e exercem funções benéficas no organismo. São utilizados em patologias gastrointestinais, ou intolerâncias alimentares, podem ter efeitos anti-inflamatórios, imunomoduladores e ação sobre a função cognitiva e prevenção de doenças neurodegenerativas como doença de Alzheimer. Está a ser investigada uma nova categoria de probióticos denominados de psicobióticos.
  • Prebióticos e simbióticos – São hidratos de carbono não digeríveis e não absorvíveis, que funcionam como substrato trófico dos probióticos e da microflora intestinal do cólon, estimulando o seu crescimento e actividade. Podem favorecer o trânsito intestinal; a sua fermentação produz ácidos gordos de cadeia curta que promovem a absorção de cálcio, ajudam a regular o metabolismo hepático dos lípidos. Os simbióticos são alimentos que incluem na sua composição probióticos e prebióticos, como é o caso de preparados lácteos ricos em fibra fermentados por bifidobactérias
  • Fibra dietética – Conjunto de substâncias de origem vegetal resistentes à hidrólise das enzimas digestivas, mas que podem ser parcialmente fermentáveis pelas bactérias do cólon. Agrupam-se em polissacáridos, oligossacáridos e compostos não polissacáridos (lignina).  Entre as principais acções fisiológicas atribuídas à fibra dietética encontram-se a manutenção de um adequado funcionamento intestinal e a prevenção e tratamento da obstipação. Contribui para a redução do colesterol e para a modulação da glicémia. Tem ainda um papel importante sobre a saciedade.
  • Fitosteróis –  Podem existir na forma livre – estanóis, ou esterificada – esteróis. São estruturalmente semelhantes ao colesterol.  São mais abundantes em alimentos como frutos secos, cereais e óleos vegetais. Ajudam a reduzir os níveis de colesterol. Quando estão presentes na dieta em quantidades suficientes reduzem a absorção intestinal do colesterol, o que estimula a expressão hepática dos receptores do colesterol LDL, favorecendo a sua captura e contribuindo para a redução dos níveis plasmáticos.
  • Polifenóis – Pertencem a várias classes. Alguns dos polifenóis presentes nos alimentos são a hesperidina, presente nos citrinos; a quercetina, presente em frutos não cítricos – maçãs, pêras, uvas, cerejas, frutos secos e noutros vegetais, como o chá verde, os brócolos, a cebola, etc.; as catequinas, também presentes no chá verde, chocolate negro e vinho; as antocianidinas, responsáveis pela coloração de frutas como a groselha, o arando vermelho, as romãs, as cerejas, etc.; os taninos e as proantocianidinas; os carotenóides como o licopeno e a luteína, presentes no tomate, melancia, alperce, ou em legumes de folha verde, respectivamente; os estilbenos, como o resveratrol, presente na pele das uvas. Possuem actividade antioxidante, pensando-se que possam neutralizar os radicais livres, substâncias químicas envolvidas nas reacções de stress oxidativo que afectam as células e que têm sido associadas a diversas doenças crónicas e ao processo de envelhecimento. Têm sido associados a um menor risco de doenças relacionadas com o envelhecimento.
  • Fitoestrogénios – Entre os mais estudados contam-se os isoflavonóides, os lignanos e os cumestranos. Têm a capacidade de se unir aos receptores estrogénicos, apresentando actividade estrogénica, mas também antiestrogénica. Estão presentes em alimentos de origem vegetal, principalmente na soja, linhaça e alfalfa, mas também em cereais, legumes, frutas e verduras.  Têm sido associados a efeitos protectores relativamente a certas neoplasias, doenças cardiovasculares e osteoporose.
  • Ácidos gordos insaturados – Os ácidos gordos monoinsaturados contêm uma dupla ligação, como o ácido oleico, que está presente em quase todas as gorduras animais e em alguns óleos vegetais, especialmente no azeite. Existem duas séries, conhecidas por ómega-3 e ómega-6. Entre os ómega-3 destacam-se o ácido alfalinolénico, que é um ácido gordo essencial e que se encontra naturalmente em óleos vegetais, como o de soja e linhaça, e outros ácidos gordos que se podem sintetizar a partir daquele e que são o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o docosa-hexaenóico (DHA), presentes especialmente no pescado azul. Entre os ómega-6, destaca-se o ácido linoleico, que é um ácido gordo essencial, precursor do ácido araquidónico. Encontram-se principalmente em óleos vegetais de milho, soja e girassol. Relacionam-se com a redução do risco de patologia cardiovascular, ao melhorar o perfil e o conteúdo dos lípidos séricos.

Devo consumir alimentos funcionais ?

De forma simples, sim e não!

Sim, se souber o que está a fazer em termos de porções, combinações, manipulação e confecção, propriedades dos alimentos, etc.

Não, se resolveu começar a seguir uma listagem de alimentos que encontrou na internet, com alegadas propriedades funcionais e decide introduzi-los de forma indiscriminada, em porções desajustadas, em todas as refeições. 

Mais ainda, existem muitas alegações de benefícios em alimentos e receitas que não trazem qualquer vantagem para a saude, e por vezes até podem ter o efeito contrário.

Qualquer alimento, por mais saudável que seja, consumido de forma exagerada, pode trazer problemas de saúde. Abordei este tema no artigo a falar do “detox” e da moda dos sumos verdes.Depois há ainda o perigo de se achar que se 100g de um alimento é bom, então 1kg é ainda melhor.

Isto é um erro e pode dar origem a níveis tóxicos de vitaminas e minerais, tal como referi no artigo sobre a Vitamina A.

Em resumo, mantenha o seu foco no consumo de alimentos saudáveis no geral, sem achar que existe um ou outro alimento que mereça ser colocado num pedestal e servir de panaceia para todos os males. Há quem defenda que a receita da longevidade está escondida em coisas isoladas como agua com limão em jejum,  sumos verdes, chá de gengibre, golden tea, curcuma, bagas goji, etc, etc…

Conclusão

Os alimentos funcionais existem e podem realmente conter compostos benéficos de uma forma prática.

Apenas não devem constituir a compensação para uma dieta inadequada e maus estilos de vida.

Podem, quando convenientemente utilizados, contribuir para a melhoria da saúde e para a minimização dos riscos de determinadas doenças. Mas a sua utilização, manipulação, confecção e mesmo porções devem ser ajustadas a cada pessoa, condição de saúde e objectivos.

Se quer saber mais sobre o que os alimentos funcionais e a nutrição funcional pode fazer por sí, entre em contacto comigo.

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