Foi confirmada uma associação entre um desequilíbrio nas bactérias intestinais e o desenvolvimento de placas amilóides no cérebro de humanos, responsáveis pela doença de Alzheimer. Esta é a causa mais comum de demência, afetando diretamente milhões de pessoas e familiares, bem como a sociedade como um todo.
O Relatório “Health at a Glance” da OCDE, sobre a prevalência da demência, coloca Portugal como o 4º país com mais casos por cada mil habitantes. A média da OCDE é de 14.8 casos por cada mil habitantes, sendo que para Portugal a estimativa é de 19.9.
Nos últimos anos, a comunidade científica tem-se debruçado sobre a saúde do intestino e até que ponto a microbiota intestinal desempenha um papel no desenvolvimento da doença.
Um novo estudo confirma esta relação, reforçando a importância da forma como cuidamos da nossa saúde em geral e do intestino em particular.
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A Microbiota Intestinal
O conhecimento sobre a microbiota intestinal, ou flora intestinal, tem melhorado através do uso de novas técnicas de identificação baseadas no estudo dos genes (ADN) dos microrganismos que habitam os intestinos.
Centenas de espécies de bactérias constituem a microbiota intestinal. Estas, estão divididas entre espécies dominantes, espécies raras e espécies transitórias que circulam ao longo do trato digestivo.
O cólon, também chamado de intestino grosso, pode ter até 10 biliões de bactérias, ou tantas quanto o número de células do seu corpo. Isto significa que o nosso cólon é um dos ecossistemas mais densamente povoados!
Algumas bactérias potencialmente perigosas podem estar presentes em pequeno número sem provocar qualquer doença. Bacteriófagos – vírus que só infetam bactérias – foram também encontrados no intestino. Também leveduras, fungos e até parasitas coabitam nesta área densamente compactada.
Composição regulada pela dieta
A microbiota dominante é uma «assinatura» para cada pessoa. Apenas uma pequena fração de espécies é amplamente partilhada na população humana: aproximadamente 60 espécies bacterianas habitam 50 % dos indivíduos de uma mesma área geográfica. Apesar de ainda estar a ser debatido, é sugerido que haja três tipos diferentes de composição bacteriana (enterótipos). Estes grupos definem a sua «ecologia intestinal» e estão relacionados, pelo menos em parte, com os seus hábitos alimentares: um deles está relacionado com uma dieta Ocidental rica em açúcar e gordura animal e o outro está associado a um consumo significativo de fruta e vegetais.
Como a microbiota pode ser regulada deliberadamente, é imperativo que isso seja feito de forma inteligente para preservar a simbiose, i.e., uma relação harmoniosa entre as suas bactérias e o seu intestino; a sua saúde depende da diversidade da sua microbiota!
O estudo sobre Doença de Alzheimer e Microbiota
Foi confirmada a correlação, em humanos, entre um desequilíbrio na microbiota intestinal e o desenvolvimento de placas amilóides no cérebro, que estão na origem das doenças neurodegenerativas características da doença de Alzheimer.
Proteínas produzidas por certas bactérias intestinais, identificadas no sangue de pacientes, podem de facto modificar a interação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso e desencadear a doença.
Esses resultados, publicados nas principais revistas da especialidade, permitem vislumbrar novas estratégias preventivas baseadas na modulação da microbiota de pessoas em risco.
O laboratório de pesquisas do neurologista Giovanni Frisoni, diretor do HUG Memory Center e professor do Departamento de Reabilitação e Geriatria da Faculdade de Medicina da UNIGE, trabalha há vários anos na potencial influência da microbiota intestinal no cérebro, e mais particularmente em doenças neurodegenerativas.
Já mostramos que a composição da microbiota intestinal em pacientes com doença de Alzheimer foi alterada em comparação com pessoas que não sofrem dessas doenças.
A sua microbiota tem, de facto, uma diversidade microbiana reduzida, com uma super-representação de certas bactérias e uma forte diminuição de outros micróbios. Além disso, foi descoberta uma associação entre um fenómeno inflamatório detetado no sangue, certas bactérias intestinais e a doença de Alzheimer; daí a hipótese que se queria testar: poderia a inflamação no sangue ser um mediador entre a microbiota e o cérebro?
Foi um trabalho uma equipe da Universidade de Genebra (UNIGE) e dos Hospitais Universitários de Genebra (HUG) na Suíça, juntamente com colegas italianos do Centro Nacional de Pesquisa e Atendimento para Doenças de Alzheimer e Psiquiátricas Fatebenefratelli em Brescia, Universidade de Nápoles e Centro de Pesquisa de Nápoles,
O cérebro sob influência
As bactérias intestinais podem influenciar o funcionamento do cérebro e promover a neurodegeneração por várias vias: elas podem, de facto, influenciar a regulação do sistema imunológico e, consequentemente, podem modificar a interação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso.
Lipopolissacarídeos, uma proteína localizada na membrana de bactérias com propriedades pró inflamatórias, foram encontrados em placas amilóides e ao redor de vasos no cérebro de pessoas com doença de Alzheimer.
Além disso, a microbiota intestinal produz metabolitos – em particular alguns ácidos gordos de cadeia curta – que, tendo propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias, afetam direta ou indiretamente a função cerebral.
Para determinar se os mediadores da inflamação e os metabolitos bacterianos constituem um elo entre a microbiota intestinal e a patologia amilóide na doença de Alzheimer, foram analisadas 89 pessoas entre 65 e 85 anos de idade. Alguns sofriam de doença de Alzheimer ou outras doenças neurodegenerativas causando problemas de memória semelhantes, enquanto outros não tinham problemas de memória.
Usando imagens de PET, foi medida a deposição de amiloide e, em seguida, quantificada a presença no sangue de vários marcadores de inflamação e proteínas produzidas por bactérias intestinais, como lipopolissacarídeos e ácidos gordos de cadeia curta.
Uma correlação muito clara
Segundo a principal autora do estudo, Moira Marizzoni,
“Os nossos resultados são indiscutíveis: certos produtos bacterianos da microbiota intestinal estão correlacionados com a quantidade de placas amiloides no cérebro”.
De facto, níveis elevados de lipopolissacarídeos no sangue e certos ácidos gordos de cadeia curta (acetato e valerato) foram associados a grandes depósitos de amiloide no cérebro. Por outro lado, altos níveis de outro ácido gordo de cadeia curta, butirato, foram associados a menos patologia amiloide.
Este trabalho, portanto, fornece a prova de uma associação entre certas proteínas da microbiota intestinal e a amiloidose cerebral por meio de um fenómeno inflamatório do sangue.
Os cientistas agora vão trabalhar para identificar bactérias específicas, ou um grupo de bactérias, envolvidas neste fenómeno.
Uma estratégia baseada na prevenção
Estas descoberta abrem caminho para estratégias de proteção inovadoras como por exemplo a administração de um cocktail bacteriano, por exemplo, ou de probióticos para alimentar as bactérias “boas” no nosso intestino.
Contudo, um efeito neuroprotetor só poderia ser eficaz num estágio muito inicial da doença, com foco na prevenção e não à terapia. No entanto, o diagnóstico precoce ainda é um dos principais desafios no controle das doenças neurodegenerativas, pois devem ser desenvolvidos protocolos para identificar indivíduos de alto risco e tratá-los bem antes do aparecimento de sintomas detetáveis.
Este estudo também faz parte de um esforço de prevenção mais amplo liderado pela Faculdade de Medicina da UNIGE e pelo Centro de Memória HUG.
A importância da Microbiota
Vive nos nossos intestinos onde encontra o seu alimento, pesa entre um e cinco quilos, abriga 60 a 70% das nossas células imunitárias e comunica através de mais de 100 milhões de neurónios constituindo assim o nosso 2º cérebro!
Este novo órgão, descoberto recentemente não é constituído de células humanas, mas de bactérias cujo conjunto representa a microbiota, nome atual dado à flora intestinal. Esta microbiota, única para cada um de nós, verdadeira assinatura do nascimento à idade adulta, é essencial para o nosso bem-estar e a nossa saúde.
Função na digestão: Degradação de compostos alimentares (fibras, aminoácidos…), dos quais alguns são fermentados no cólon pela microbiota produzindo gases e sobretudo ácidos gordos que nutrem as células do intestino, preservando a integridade da mucosa. Síntese de vitaminas do grupo B e da vitamina K.
Apoio de imunidade e defesas naturais: Proteção contra a colonização do tubo digestivo pelos micróbios patogénicos: é o “efeito barreira”. A microbiota pode também degradar as toxinas.
Desenvolvimento e maturação do sistema imunitário: O sistema imunitário intestinal hospeda 60 a 70% das nossas células imunitárias. A microbiota é essencial à criação e ao funcionamento da imunidade intestinal e geral.
Papéis metabólicos e fisiológicos: A microbiota intervém na absorção dos açúcares e gorduras, no armazenamento das gorduras e na regulação do apetite.
Produção de substâncias ativas no cérebro: a microbiota produz os mesmos neuromediadores do que o cérebro; está implicado no diálogo cérebro-intestino.
Conclusão
Sendo uma área relativamente nova, os estudos vêm confirmando a correlação entre a microbiota intestinal e o desenvolvimento de muitas doenças, como o Alzheimer aqui referido. Da saúde do intestino, ou 2º cérebro como tem sido apelidado, depende toda a saúde em geral.
Disbiose é o nome que se dá ao desequilíbrio da microbiota intestinal
O que não aprofundado neste artigo, e é de extrema importância, é o papel do intestino e microbiota no sistema imunitário, na absorção de nutrientes, produção de neurotransmissores e hormonas, relação com o estado emocional, e como tudo se relaciona com os os sistemas e funções do corpo.
Tendo em conta que a microbiotia é diretamente afetada por aquilo que comemos e estilos de vida, é algo a que todas as pessoas deviam prestar mais atenção. Uma alimentação correta, com probióticos e prebiótcos, com pouco açúcar e álcool, e garantindo todos os nutrientes necessários é um passo enorme na prevenção de muitas doenças.
Se sofre de problemas do trato gastrointestinal como cólon irritável, alterações do trânsito intestinal, azia, refluxo, distensão abdominal e enfartamento, digestões lentas, etc., será boa ideia rever a sua alimentação e se necessário fazer um despiste através de exames complementares.
Contacte-me se precisar de ajuda neste sentido.
É uma área de medicina em grande desenvolvimento e aguardamos muitas surpresas com mais e melhores estudos.
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