Suplementos Alimentares – Precisamos mesmo deles?

INTRODUÇÃO

A indústria dos suplementos é uma das mais lucrativas no setor da saúde e bem-estar, mas será que precisamos realmente deles?

Os suplementos podem ser aliados importantes quando usados de forma consciente e sob supervisão adequada. No entanto, confiar exclusivamente neles sem priorizar a alimentação pode ser um erro.

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A saúde começa no prato, e é aí que devemos concentrar os nossos esforços para garantir que o nosso corpo recebe tudo o que precisa de forma natural, equilibrada e segura. Suplementar, quando necessário, deve ser feito com conhecimento, provas laboratoriais e acompanhamento profissional para garantir que os benefícios superam os riscos.

A base de uma boa saúde começa com uma alimentação equilibrada e variada. Quando consumimos alimentos frescos e integrais, estamos a ingerir não só macronutrientes essenciais como proteínas, hidratos de carbono e gorduras, mas também vitaminas, minerais e compostos bioativos que desempenham funções críticas no nosso corpo.

Biodisponibilidade Natural: Os nutrientes provenientes dos alimentos são geralmente mais biodisponíveis, o que significa que o corpo consegue absorvê-los e utilizá-los de forma mais eficiente.

Por exemplo, a vitamina C presente em frutas como a laranja é melhor absorvida do que a sua versão sintética encontrada em suplementos.

Efeito Sinérgico: Além disso, os alimentos oferecem um “efeito sinérgico”, onde diferentes nutrientes interagem entre si para potenciar os seus benefícios. Num suplemento, muitos desses compostos estão isolados, perdendo essa capacidade de trabalhar em conjunto.

2. A INDÚSTRIA DOS SUPLEMENTOS: FALTA DE CONTROLO E O MARKETING AGRESSIVO

Embora a suplementação possa ser necessária em alguns casos, é importante reconhecer que a indústria dos suplementos é, em grande parte, desregulada e impulsionada por um marketing agressivo.

A Industria dos suplementos vende essencialmente a ideia de melhorar a saúde, numa altura em que as pessoas se sentem inseguras com o tipo de alimentação a seguir, e que esta não consegue cumprir como as necessidades, o que é errado.

Regulação Fraca: Ao contrário dos medicamentos, os suplementos não passam pelo mesmo rigoroso controlo de qualidade e segurança. Apenas são aprovados que não são prejudiciais, mas não de que são realmente eficazes. Isto resulta em produtos cuja pureza e eficácia podem ser questionáveis. Por exemplo, um estudo revelou que muitos suplementos no mercado continham ingredientes não listados ou quantidades incorretas dos compostos ativos.

Marketing Enganoso e Agressivo: As campanhas publicitárias frequentemente utilizam termos como “natural”, “orgânico” ou “sem aditivos” para convencer os consumidores de que os produtos são seguros e benéficos.

No entanto, “natural” não significa automaticamente seguro; mesmo compostos naturais podem ter efeitos adversos se tomados de forma inadequada, principalmente em doses geralmente desajustadas e exageradas.

O marketing desses produtos explora as vulnerabilidades das pessoas, criando uma sensação de urgência através do medo — seja o receio de adoecer, de ter deficiências nutricionais, de não fortalecer as defesas ou de envelhecer mais rapidamente. Ao incentivar essa perceção de “necessidade”, os consumidores passam a acreditar que não estão a cuidar adequadamente da sua saúde, o que os leva a sentir-se pressionados a adquirir suplementos, impulsionando assim as vendas.

3. DOSAGENS ELEVADAS E DESAJUSTADAS

Um dos maiores problemas é a dosagem presente nos suplementos. Muitas vezes, as doses são centenas ou até milhares de vezes superiores à quantidade diária recomendada.

Desajuste para o Corpo: Tomar doses tão elevadas pode colocar o corpo em estado de alerta, forçando os órgãos a trabalhar mais para “destoxificar” o organismo e eliminar os excessos. Por exemplo, uma dose elevada de vitamina D, sem supervisão, pode sobrecarregar os rins e causar hipercalcemia, uma condição perigosa que leva ao acúmulo de cálcio nos tecidos. A toma exageradas de antioxidante pode comprometer a capacidade do organismo em lidar com os radicais livres.

Personalização Necessária: Nem todas as pessoas têm as mesmas necessidades. Por isso, as dosagens devem ser ajustadas individualmente, e não generalizadas como muitas vezes acontece nos suplementos vendidos no mercado.

Interação de compostos: Especialmente nos multivitamínicos, é comum encontrar ingredientes que competem entre si pela absorção no organismo. Isto pode resultar em interações que dificultam a assimilação dos nutrientes e criar reações negativas no organismo, provocando uma sobrecarga desnecessária.

4. NATURAL NÃO É SINÓNIMO DE INOFENSIVO

Há uma perceção comum de que, por serem “naturais”, os suplementos podem ser consumidos livremente. No entanto, esta suposição é perigosa. Mesmo os compostos naturais têm a capacidade de interagir com medicamentos, causar efeitos colaterais e sobrecarregar o corpo.

Interações e Contra-indicações: Por exemplo, a erva-de-são-joão, um suplemento frequentemente utilizado para depressão leve, pode interferir com a eficácia de vários medicamentos, incluindo anticoncepcionais e anticoagulantes. O Ginkgo biloba, um suplemento popular para melhorar a memória e a circulação, pode aumentar o risco de sangramento quando combinado com anticoagulantes, como a aspirina ou a varfarina, devido ao seu efeito na inibição da agregação plaquetária.

Toxicidade Potencial: O consumo excessivo de certos nutrientes, como a vitamina A ou o ferro, zinco, selénio e muitos outros, pode resultar em toxicidade, afetando o fígado e outros órgãos vitais.

5. VARIEDADE E QUALIDADE: NEM TODOS OS SUPLEMENTOS SÃO IGUAIS, MESMO COM O MESMO PRINCÍPIO ATIVO

A variedade de formas em que os compostos são apresentados nos suplementos torna a escolha complexa e pode impactar significativamente a sua eficácia. Nutrientes como o magnésio e o ferro estão disponíveis em diferentes formas químicas, cada uma com níveis distintos de absorção e efeitos no organismo. Por exemplo, o óxido de magnésio tem uma absorção mais baixa e efeitos laxantes, enquanto o glicinato de magnésio é mais bem tolerado e absorvido. No caso do ferro, a forma ferrosa (sulfato ou gluconato) é mais eficaz, mas pode causar efeitos colaterais como constipação.

A fonte dos nutrientes (natural ou sintética) e as combinações de nutrientes são igualmente importantes. Suplementos de vitamina E natural (d-alfa-tocoferol) apresentam maior biodisponibilidade do que a versão sintética, enquanto o cálcio, para ser melhor absorvido, precisa de vitamina D. Certos suplementos também utilizam combinações para aumentar a absorção, como a curcumina com piperina, mas estas combinações podem ter riscos, como interações com medicamentos.

Finalmente, a biodisponibilidade e as formulações de libertação lenta desempenham papéis cruciais para evitar sobrecargas no organismo. Suplementos de libertação prolongada de magnésio ou ferro ajudam a reduzir efeitos colaterais, mas devem ser escolhidos com cautela para garantir que o corpo os metaboliza corretamente sem interferir na absorção de outros nutrientes. Assim, a escolha de um suplemento deve ser personalizada.

6. QUANDO OS SUPLEMENTOS SÃO NECESSÁRIOS

Há muitas situações em que a suplementação é necessária e benéfica, mas sempre com base em evidências claras e acompanhamento profissional.

Carências Comprovadas: Deficiências nutricionais comuns devem ser confirmadas através de exames laboratoriais. Por exemplo, níveis baixos de vitamina D, ferro, vitamina B12 ou Ácido Fólico devem ser corrigidos, mas de forma monitorizada.

Dietas Específicas: Pessoas que seguem dietas restritivas, como vegetarianos ou veganos, podem precisar de suplementação de B12, ómega-3, ou ferro, devido à menor disponibilidade destes nutrientes na sua alimentação. Pessoas que seguem uma dieta carnívora podem necessitar de suplementos de fibras, ácido fólico e vitamina C.

Fases da Vida e Condições Específicas: Durante a gravidez, a suplementação de ácido fólico e iodo é recomendada para prevenir malformações no bebé. Outros exemplos incluem a suplementação de cálcio e vitamina D em pessoas idosas para a saúde óssea. Os fumadores necessitam de mais 30% de Vitamina C do que o resto das pessoas

Melhoria do rendimento desportivo e manutenção da massa muscular:  Em algumas situações faz muito sentido recorrer a suplementos como creatina, proteina isolada, magnésio e outros suplementos que possam melhor a performance e recuperação.

Patologias específicas: Ao lidar com algumas doenças poderá ser necessário introduzir uma dose funcional de certo nutriente ou composto para ajudar no processo de recuperação e potenciar o tratamento que está simultaneamente a ser feito.

Medicamentos que afetam os nutrientes:

Alguns medicamentos podem afetar os níveis de nutrientes no corpo, exigindo ajustes para prevenir deficiências. O uso prolongado de estatinas pode reduzir a vitamina B12, necessária para a saúde neurológica e sanguínea, sendo recomendável monitorizar esses níveis. Já os antibióticos podem desequilibrar a microbiota intestinal ao eliminar bactérias benéficas, podendo ser útil recorrer a probióticos para restaurar a flora intestinal e apoiar a saúde digestiva e imunológica.

CONCLUSÃO

A suplementação pode ser uma ferramenta importante quando usada conscientemente, mas não deve substituir uma alimentação equilibrada e variada. Obter nutrientes diretamente dos alimentos oferece vantagens em termos de biodisponibilidade e evita as potenciais armadilhas das dosagens elevadas ou das formas menos eficazes de certos compostos. A vasta oferta de suplementos e as práticas de marketing agressivas, que apelam a medos e inseguranças sobre a saúde, exigem que os consumidores estejam bem informados para fazer escolhas realmente benéficas.

Recomendação Final

Sempre que possível, procure suprir as suas necessidades nutricionais através da alimentação e recorre à suplementação apenas em casos de deficiência comprovada ou necessidade específica, com orientação profissional. Avalie regularmente os seus níveis nutricionais e consulta um especialista para garantir que estás a tomar a dose e a forma corretas, sem sobrecarregar o organismo. Afinal, a saúde e a nutrição adequadas começam no prato e não no frasco.

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