
1. Introdução
Nos últimos anos, os microplásticos — partículas de plástico com menos de 5 milímetros — deixaram de ser apenas uma preocupação ambiental para se tornarem também uma questão de saúde pública. Estas partículas microscópicas estão disseminadas no ar, na água, nos alimentos e até no corpo humano, tendo já sido identificadas no sangue e no leite materno.
Um estudo recente detetou microplásticos no sangue humano em quase 80 % das amostras analisadas, com partículas suficientemente pequenas para atravessar barreiras biológicas e contendo aditivos com potencial efeito disruptor hormonal (Leslie et al., 2022). Estes dados confirmam que a exposição é real e contínua.
Além disso, a investigação começa a revelar impactos que vão além da idade adulta. Uma análise epidemiológica internacional envolvendo mais de três milhões de nascimentos mostrou que a exposição pré-natal a microplásticos está associada a um aumento no risco de baixo peso ao nascer, o que poderá representar mais de 200 mil casos adicionais por ano à escala global (Liu et al., 2024).
Apesar de ainda se conhecer pouco sobre o impacto cumulativo desta exposição ao longo de décadas, a tendência crescente de contaminação e a ubiquidade dos microplásticos tornam urgente a adoção de medidas preventivas.
Este artigo apresenta 16 estratégias práticas e cientificamente fundamentadas para reduzir o contacto diário com estas partículas, protegendo a saúde a longo prazo.
2. O que muda afinal na menopausa? Muito mais do que se pensa
1. Evitar água engarrafada em plástico
A água engarrafada é, surpreendentemente, uma das maiores fontes diretas de ingestão de microplásticos. Análises revelam que um litro de água engarrafada pode conter desde algumas centenas até mais de 300.000 partículas, muitas delas nanoplásticos impossíveis de filtrar no corpo.
Estas partículas resultam da degradação do próprio recipiente e do processo de engarrafamento. Quanto mais tempo a garrafa permanece armazenada, especialmente sob calor ou luz solar, maior a libertação.
Alternativa: use água filtrada da torneira (com filtros de carvão ativado ou osmose inversa) e armazene-a em garrafas de vidro ou aço inox.
2. Moderar consumo de peixe e marisco de alto risco
O oceano é um grande reservatório de microplásticos, e organismos marinhos ingerem-nos facilmente ao confundi-los com alimento. Os mariscos bivalves (mexilhão, amêijoa, ostra) são particularmente vulneráveis, pois filtram grandes volumes de água e retêm partículas no corpo.
Peixes pequenos, como sardinha e carapau, que se comem inteiros (com vísceras), também são fontes significativas.
Alternativa: variar a dieta com outras fontes de proteína (ovos, leguminosas, aves) e, quando consumir marisco ou peixe de pequeno porte, remover vísceras sempre que possível.
3. Evitar recipientes plásticos para alimentos quentes
O calor acelera a degradação do plástico, libertando não apenas microplásticos, mas também compostos químicos como BPA e ftalatos, com efeitos disruptores hormonais.
Alternativa: utilizar vidro, cerâmica ou aço inox tanto para aquecer como para armazenar refeições, evitando o contacto prolongado com plásticos quentes.
4. Substituir utensílios e tábuas de plástico
O desgaste de tábuas de corte e utensílios de plástico liberta microfragmentos que podem ser incorporados nos alimentos.
Alternativa: recorrer a tábuas de bambu, madeira ou vidro e utensílios de silicone de grau alimentar ou inox.
5. Reduzir consumo de alimentos processados embalados em plástico
Os produtos ultraprocessados passam longos períodos em contacto com embalagens plásticas, frequentemente sob calor e pressão, aumentando o risco de migração de partículas.
Alternativa: adquirir produtos a granel ou em embalagens de vidro, papel ou metal, evitando armazenamento prolongado de alimentos processados.
6. Evitar chá e café em saquetas plásticas ou cápsulas
Algumas saquetas de chá e cápsulas de café libertam milhões de microplásticos quando expostas a água quente sob pressão.
Alternativa: escolher chá de folhas soltas preparado em infusores de vidro ou inox e café feito em moka, prensa francesa ou filtro reutilizável.
7. Instalar filtros de partículas na máquina de lavar roupa
Tecidos sintéticos libertam microfibras a cada lavagem, que acabam por atingir rios e oceanos.
Alternativa: instalar filtros adequados, utilizar sacos de lavagem específicos e optar por ciclos de baixa rotação. O uso de fibras naturais também contribui para reduzir o problema.
8. Escolher roupa de fibras naturais
Tecidos como algodão, linho, lã ou cânhamo libertam menos partículas persistentes no ambiente.
Alternativa: investir em peças de qualidade e cuidar da roupa para aumentar a sua durabilidade, reduzindo a necessidade de substituição frequente.
9. Evitar cosméticos e pastas de dentes com microesferas
As microesferas de polietileno ainda podem estar presentes em produtos importados ou antigos, apesar de restrições em vários países.
Alternativa: verificar rótulos e preferir abrasivos naturais como açúcar, sal ou sementes moídas.
10. Não reaquecer comida no micro-ondas em recipientes plásticos
O aquecimento rápido no micro-ondas promove a degradação do plástico e a libertação de partículas para os alimentos.
Alternativa: transferir sempre as refeições para recipientes de vidro ou cerâmica antes de aquecer.
11. Reduzir exposição ao pó doméstico
O pó pode conter microplásticos provenientes de fibras sintéticas de roupa, tapetes e mobiliário.
Alternativa: aspirar com filtro HEPA, passar pano húmido em superfícies e ventilar regularmente os espaços interiores.
12. Evitar utensílios descartáveis de plástico
O uso de copos, talheres e pratos descartáveis, sobretudo com alimentos quentes ou ácidos, aumenta a libertação de microplásticos.
Alternativa: utilizar utensílios reutilizáveis em metal, vidro, cerâmica ou bambu.
3. Conclusão
A exposição a microplásticos é inevitável na sociedade atual, mas pode ser significativamente reduzida com escolhas conscientes.
Estas estratégias simples, quando aplicadas de forma consistente, contribuem para diminuir a carga de partículas ingeridas ou inaladas ao longo da vida, protegendo não apenas a saúde individual, mas também o ambiente.
Prevenir é sempre mais eficaz do que remediar — e, no caso dos microplásticos, a prevenção começa em casa, nas decisões diárias que moldam o futuro da saúde.