Porções, calorias e bom senso (ou falta dele)

Num voo para Lisboa, a Sra. que estava ao meu lado comentou com a filha que nem ia tocar num salame, servido como parte de uma refeição.

Isto porque aquilo era “uma bomba calórica” e já se tinha portado bem ao pequeno-almoço, pelo que deduzi que provavelmente estivesse de dieta.⁣ E assim deliciou-se com a pequena sandes de 100g, “light e fresca”, mas acabou por comer duas. Isto porque a sua filha teenager trocou prontamente a sua sandes pelo salame da mãe. E uma sandes de 100g não puxa carroça, como se costuma dizer.

Tudo feliz e contente e até aqui tudo bem. Cada uma com o que queria e eu entretido com o meu café.⁣

Mas fiquei a pensar na questão das calorias e da preocupação imediata da senhora com a “bomba calórica” do salame. E, como de costume, pus-me a ler as declarações nutricionais de ambos os snacks:⁣

Sandes vs salame

Sandes 100g:⁣

          • 255kcal⁣
          • 2g de açúcar⁣
          • 14g de proteína ⁣
          • 8g de gordura⁣

Salame 45g:⁣

          • 173kcal⁣
          • 14g de açúcar⁣
          • 2,1 de proteína ⁣
          • 5g de gordura ⁣

Então a sandes ou salame ?

Com base nisto acho que já perceberam onde vamos chegar…⁣

Sendo o aporte calórico a única preocupação e prioridade da Sra, esta consumiu 510kcal de pão com fiambre e queijo, e a filha 346kcal de dois salames. ⁣E pelo ar da sua cara, os salames souberem bem melhor, além de terem 164kcal a menos. ⁣

Quer isto dizer que devemos consumir salames em vez de sandes? Claro que não. ⁣

Se uma pessoa tiver uma uma alimentação equilibrada na maior parte do tempo, isto nem se questiona. Nenhuma exceção (sandes ou salame) vai fazer a diferença no todo.⁣

Não estou aqui a pensar em densidade nutricional, impacto do açúcar sobre a insulina, etc. E isto porque me estou a referir a porções de 45g e 100g, consumidas de forma pontual, como um snack. ⁣

O que vai fazer a diferença não é o que se faz ocasionalmente, mas sim a atitude e falta de bom senso que leva a escolhas menos acertadas durante todo o resto do tempo.⁣

É claro que a sandes é mais completa em termos de nutrientes, mas não é o que está aqui em causa.

Obsessão com as calorias, independentemente da porção

Mas o curioso é a questão de haver uma preocupação séria e castradora com as calorias. Isto sem usar o bom senso, sem prestar atenção às porções a serem consumidas e até a forma de cozinhar o alimento.

Um bom exemplo é a batata. Se compararmos uma batata doce assada (supostamente mais saudável), com uma batata branca cozida, poderemos ter uma diferença de até 50Kcal e mais 10g de hidratos de carbono. Numa porção de 200g são mais 100Kcal.

Para algumas pessoas e objectivos isto até pode ser uma coisa boa, mas para quem tem que, por diversos motivos, controlar a ingestão calórica e quantidade de hidratos de carbono, talvez não tanto.

E volto a responder algo que se questiona quando quando o alimento é supostamente saudável e natural. E as calorias aqui contam? Sim, contam!!! Se o objectivo é manter um déficit calórico, claro que as calorias contam!

Em 10 refeições estamos a falar de mais 1000Kcal.

Batata doce vs batata branca

Esta falta de conhecimento, se for constante constantemente, pode comprometer os objectivos de uma pessoa, quer seja perda de peso ou rendimento desportivo.

Que fique a nota que apesar disso, as calorias que entram e são tudo no balanço energético, mas são sempre o ponto de partida, especialmente numa fase inicial, tanto para perda como aumento de peso. 

É preciso informação, não apenas restrição

Não sou apologista de uma contagem obsessiva de calorias se o objectivo é o controle do peso. Mas é preciso ter uma noção prática, que permita uma aproximação entre aquilo que se acha que se consome, e o que se consumiu na verdade em termos de calorias.

Mesmo que por alto, deve haver conhecimento sobre o que consiste uma porção normal do alimento a consumir e respetivo aporte calórico.

Depois aliada a esta noção, tem que haver bom senso, para se poderem fazer escolhas informadas, sem colocar tanto stress no ato de comer. ⁣

Observo já sem surpresa que, quando peço às pessoas para fazerem um registo do que comem ao longo do dia, a diferença entre a ideia que tinham sobre as calorias consumidas e aquelas que são realmente registadas, tem geralmente um grade desvio e sempre para cima.

Ou seja, quando as pessoas fazem um registo rigoroso do que consomem ao longo do dia, é comum ficarem surpresas ao verificar que podem consumir 500kcal ou mais, muito mais. 

Todos os alimentos, bons ou maus, vão ter um impacto no organismo de acordo com a quantidade que é ingerida. Sim, a dose faz o veneno ou o remédio. ⁣

Nenhum alimento em si tem a capacidade de emagrecer ou engordar. Isto se a porção é ajustada às necessidades de cada um.⁣

As pessoas tem que procurar estar informadas e selecionar as suas fontes. Aqui os profissionais de saúde também tem um papel chave de educar e não apenas restringir.⁣⁣

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