Polvilho, um bom alimento ?

Polvilho é saudável ?

Na tentativa de introduzir alimentos saudáveis na alimentação, procuram-se substitutos a ingredientes ou alimentos que possam ser uma melhor opção, pelos mais diversos motivos.  

Ou porque apresentam uma solução a uma intolerância alimentar, porque contêm menos açúcar, mais nutrientes, menor carga glicémica, permitem uma maior saciedade e ajudam  na perda de peso.

Mas será que está à altura das expectativas que nele colocam ? E poderá ser considerado como um “alimento fit” ou “do bem”

Comecei a ficar mais preocupado depois de ler em vários grupos e publicações que era inclusivamente um super alimento, indispensável numa alimentação saudável.

Conteúdo deste artigo

Introdução

Nos últimos anos em Portugal o polvilho, que nunca fez parte da nossa tradição, começou a estar associado a regimes alimentares como a Dieta do Paleolítico e Low carb. Faz parte de muitas receitas fit e é supostamente um bom aliado em várias dietas, substituindo para muitos as “demoníacas” farinhas de trigo.

Realmente pode ter algumas vantagens mas vamos conhecer melhor este alimento antes de começar ou continuar a usá-lo indiscriminadamente, sob a desculpa de ser saudável.

O polvilho é sobretudo procurado por quem quer evitar o glúten uma vez que é isento do mesmo (a não ser através de uma possível contaminação cruzada, em fábricas onde é processado com outros alimentos com glúten).

E aqui começa um dos primeiros e mais importantes erros, que é assumir que algo que não tem glúten é um alimento saudável.

E na ingenuidade das pessoas, se um alimento é saudável, pode e deve ser consumido sem preocupações.

O que é o Polvilho (doce ou azedo)

Não é mais que uma farinha de amido, neste caso da mandioca. De acordo com o seu teor de acidez, o produto é classificado em polvilho doce ou azedo.

O polvilho doce, em que a mandioca é seca e reduzida a farinha, pode ser considerado um produto in natura.

O polvilho azedo, assim como o sagú, são produtos derivados que passam por processos de modificação que lhe concedem propriedades específicas. Estes processos são a gelatinização (sagú), fermentação e adição de fermento (polvilho azedo).

Em termos de valor nutricional vemos que é essencialmente fonte de hidratos de carbono. E como sabemos, vai fornecer sobretudo energia (calorias).

Por cada 100g, e comparando com a farinha de trigo, tem praticamente o mesmo número de calorias mas mais hidratos de carbono. Continua a ser uma farinha refinada, cuja presença de micronutrientes não tem qualquer expressão.

Resumindo, o polvilho é essencialmente uma fonte de hidratos de carbono, com elevado aporte calórico, baixa densidade nutricional e elevada carga glicémica

Polvilho doce e azedo

O polvilho é então um bom alimento ?

Depende, mas se tivesse que generalizar para evitar confusão e optar entre um sim e um não, seria NÃO!

No meu ponto de vista, a única vantagem na utilização do polvilho é o facto de não conter glúten. Não contém também proteínas e gordura, mas não vejo porque motivo alguém optaria por polvilho por causa disso.

Para quem têm uma alimentação convencional (mediterrânea) e é sensível ao glúten, então o polvilho pode ser uma alternativa a outras farinhas.

Como já vimos acima, pode conter micronutrientes mas não é rico neles, como muitas vezes se lê.

Defende-se que contém muito cálcio, fósforo, niacina, potássio, entre outros,  mas teria que consumir quase 1kg de polvilho para alcançar a DDR (dose diária recomendada) destes nutrientes.

Além disso, e ao contrário de outras farinhas, é muito pobre em fibras.

O polvilho eleva rapidamente o açúcar no sangue e deve por isso ser evitado por quem tem diabetes e quem quer seguir uma alimentação com alimentos de baixo índice e carga glicémica.

Para minimizar esta questão, deve-se confecionar o polvilho com uma fonte de proteína e/ou de hidratos de carbono de absorção lenta.

Conclusão

Pode ser um bom substituto de farinhas com glúten e para quem quer fazer pães, bolos, bolachas, sobremesas, engrossar molhos, etc. 

Para as pessoas que não têm problemas com os níveis elevados de açúcar no sangue, não estão preocupados com o aporte calórico, preferem a textura e sabor do polvilho, é também uma opção.

Mas que fique bem claro que, através do seu consumo, poucos ou nenhuns nutrientes vai obter, além de hidratos de carbono de absorção de rápida.

O polvilho não é por si só um alimento saudável, muito menos um super alimento.

Também não quer isto dizer que o glúten (conjunto de proteínas) seja necessário ou deva fazer parte de uma alimentação saudável. 

Cada caso é único e a utilização de um alimento ou outro vai depender de vários fatores.

O risco de catalogar o polvilho de alimento saudável, tal como muitos outros alimentos, é a tendência para levar as pessoas a abusar dos mesmos, podendo ser pior a solução que o problema inicial.

This Post Has One Comment

  1. Ana T. Rosenbusch

    Concordo plenamente com este artigo. Quando iniciei um regime quase Paleo em Julho de 2016, após estar com falta de muitos nutrientes essenciais e peso a mais, inicialmente com a ressaca da falta de hidratos, também sofri da febre do polvilho e usava-o para tudo e mais alguma coisa. Mas com o passar do tempo apercebi-me do erro que estava a cometer. Não nego que crepes de queijo feitos com polvilho e pão de queijo e mesmo a tapioca hidratada são uma delícia, mas hoje tenho plena consciência que este é um produto para uso muito esporádico, tal é o seu íncice glicémico elevado. Não o exclui, mas modero-o bastante. Se antes o comia semanalmente, agora passo meses em que não lhe toco. E sempre que o como fico com fomes e ataques de compulsão alimentar. Não é nada agradável. Agora é moderar sem excluir para não ficar em privação. Há que já o tenha excluído e o substitua por versões ancestrais do Trigo como a Espelta, Kamut, Eicorn, Barbela ou mesmo quem tenha passado a usar farinha de arroz integral. Sinceramente todas as opções são pouco saudáveis para mim. Tudo são amidos Agora, compete a cada um decidir o que é melhor para si.Tudo depende de cada caso.

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