Preço da consulta – O real valor de um serviço

Todos os dias me pedem informações sobre os serviços que presto e condições dos mesmos.

“Qual o preço?” é a pergunta mais frequente. Muitas vezes antes do bom dia ou boa tarde.

Aprendi com a experiência qual o tipo de personalidade e mente por detrás de uma primeira abordagem. Já me enganei, mas é quase uma ciência exata, quase…. 

E entendo que a questão do valor é a que mais pesa na decisão de agendar uma consulta ou não, independentemente da qualidade da mesma, e transformadora que possa ser.

Ou seja, o preço decide se as pessoas dão mais um passo para se informar, como funcionam as consultas, qual a abordagem, o que inclui, como poderá ser uma mais valia, resultados expectáveis, etc. Eu faço o mesmo antes de selecionar um restaurante, local para férias ou comprar uns ténis novos. Eu sei os meus limites e o que dou prioridade.

E em muitos casos o barato sai mesmo caro. Espero que este pequeno artigo o faça entender o real valor de um serviço prestado e como uma pequena diferença de valor pode ser um excelente investimento ao final de contas.

Conteúdo do artigo

Escolher o menor preço! Compensará?

Quanto mais barato melhor certo ?

Em muitos casos parece que sim, apesar de se ter a noção de que, de uma forma geral, quanto mais barato é um bem ou serviço, maior é probabilidade de a qualidade ser inferior.

Eu entendo. Eu próprio fazia o mesmo, e talvez ainda o faça com algumas coisas. 

Mas tenho vindo a aprender que “caro é o que não presta” e procuro organizar as prioridades de acordo com o que poderá ser o melhor investimento no médio e longo prazo.

E hoje em dia prefiro optar logo à partida por algo de melhor qualidade, dentro das minhas possibilidades, do que andar a ter dores de cabeça, gastar tempo e dinheiro com coisas medíocres.

Se eu pagar 24€ por umas sapatilhas de corrida que ao fim de mês estão rotas e inutilizadas, o valor foi elevadíssimo. Se por outro lado investir 120€ numas sapatilhas que me durem apenas um ano, o real valor foi menos de metade, sem toda a frustração envolvida, além de ter conforto, segurança e mais prazer na experiência.

Acho que na teoria a maioria das pessoas está de acordo que a saúde deve ser um investimento e não uma despesa. E que se não se investe tempo e dinheiro na saúde, mais cedo ou mais tarde vai ter que gastar (muito mais) na doença.

Pegando em mais um exemplo, imagine que lhe apetece uns morangos e vai ao supermercado para os comprar. 

Opta por uns morangos importados por 3,5€/kg em vez de uns biológicos e produção local por 5€/Kg. Chega a casa para se deliciar com os mesmos e fica frustrado porque não têm o sabor ou dão o prazer que esperava. Será que uma diferença de 0,20€ numa porção de morangos compensou a poupança ? Obvio que não!

Mas é mesmo assim. As pessoas não se preocupam em gastar 5€ por dia em bicas queimadas e um pastel de nata, quando depois evitam um bem ou serviço de qualidade, cuja diferença é dos mesmo 5€, apesar de lhes poder melhorar ou simplificar a vida.

Disparidades de valores

De uma forma geral têm-se o equivalente ao que se paga, mas nem sempre isso acontece. E entendo que as pessoas possam estar com “um pé atrás” no que diz respeito especialmente a serviços.

Sei que há profissionais de saúde de famosos,  que falam na TV, são de autores de livros, etc., que cobram valores elevados por uma consulta de 20 minutos. E mesmo assim não é nem o valor nem o tempo que determina a qualidade. Se for algo que transforma a sua vida para sempre, esse investimento diluído no tempo, até pode parecer ter sido de graça.

Uma consulta esperada com grande expectativa e mesmo com esforço financeiro, é por vezes realizada por uma “assistente de confiança”, com direito apenas no final a um aperto de mão do tal guru, e uma assinatura numa prescrição e outra no recibo. E ainda podem comprar um livro assinado disponível na recepção.

E quantas vezes o resultado final é chapa 5… As mesmas dietas, os mesmos suplementos, os mesmos medicamentos manipulados feitos na farmácia x ou y, de onde ainda entra mais uma comissão para quem os prescreveu. 

Muitos pessoas vêm ter comigo devido a más experiências com o profissional X ou Y, apesar de ser uma questão à qual eu não dou continuidade como tópico de conversa. E a verdade seja dita, há quem critique quando nem sequer colocou em prática as recomendações dadas. Mas isto porque esperavam um tal de milagre que não aconteceu.

Depois há as consultas de 10€ ou mesmo grátis, em farmácias, ervanárias ou centros de emagrecimento. Ou aquelas promoções em que compra o tal “Pack Drenante” de 120€ para um mês e tem uma linha telefónica para qual pode ligar e tirar duvidas com um “especialista”.

Não se engane, os baixos valores das consultas serão muito bem compensados com a venda de tratamentos e produtos associados à dieta prescrita. Batidos, substitutos de refeições, drenantes e produtos detox muito eficazes em drenar a carteira.

Eu à partida acho imoral e nada ético um profissional de saúde aceitar receber qualquer incentivo para promover qualquer produto ou marca exclusiva. E não é só a grande industria farmacêutica como se diz.

Paga serviço low cost, mas espera resultado premium ?

Não se pode esperar ter um serviço premium pagando um preço low cost

Como há muita oferta e dificuldade em saber o que é realmente de qualidade ou fogo de vista, as pessoas vão optando por opções mais baratas. O pior que pode acontecer, se não resultar, é ter perdido apenas uns trocos. E depois tenta-se noutro lado, um outro produto ou serviço barato, repetindo-se o ciclo vezes e vezes a fio.

É essa a sua linha de pensamento? 

No ano passado fiz uma consulta de nutrição que me foi oferecida. Em 20 minutos certos, saí de lá com uma recomendação para beber mais água, aumentar o consumo de frutos secos entre as refeições e seguir um plano que eu chamo de “dieta fotocópia”, totalmente despersonalizada e encontra em 2 minutos no google. O valor da consulta era de 25€ para 20 minutos de consulta.

Entrei já na dúvida como iria seria possível em 20 minutos fazer uma avaliação, conhecer-me, o historial clínico, objetivos, etc., e ainda conseguir dar-me recomendações que pudessem trazer valor acrescido. E teria que fazer um seguimento no mesmo local, pagando consulta de 15€ para fazer a composição corporal e ajustar “o plano”.

Com muito respeito pela simpática nutricionista, não disse nem o que fazia, nem opinei que as recomendações dadas eram totalmente inúteis. Se eu tivesse pago pelo serviço teria sido caríssimo, para não dizer dinheiro deitado ao lixo. 

Mas a nutricionista, por muito boa que fosse a sua vontade e conhecimento, trabalhava numa clinica que tem que oferecer um preço baixo, senão as pessoas não aderem. Mesmo que isso obrigue a encaixar 3 consultas numa hora.

A nível de saúde, por vezes eu preciso de recorrer a especialistas. 

Prefiro pagar 80€ a um profissional que me ouve e explica as coisas, estabelece um plano, que quer quantificar os resultados, avaliar a evolução, sugerir alterações e me deixa à vontade para esclarecer questões pontuais que eu possa ter até á próxima consulta.

Não quero pagar 45€ a um médico que, sem levantar a cabeça do papel, me prescreve uma catrefada de medicamentos e diz para eu lá voltar daí a um mês para lhe dizer se estou melhor ou não. Aqui não é prestada atenção à saúde e como recuperá-la, mas sim à doença e como a tornar assintomática, não a tratando nem dando ferramentas para tal.

O engenheiro e o parafuso, conhecimento e sabedoria.

Esta é das minhas histórias favoritas relativamente ao valor da sabedoria e experiência.

Um engenheiro foi chamado a uma central nuclear supercomplexa que tinha parado e gerado o pânico. Um engenheiro especialista foi ao local e após 5 minutos de procurar o problema, pegou numa chave e apertou um dos milhares parafusos que existiam, e tudo voltou a funcionar.

Apresentou um valor da intervenção de 1000€, ao qual o responsável da central ultrajado pergunta: “1000€ para apertar um parafuso em 5 minutos???”

E o engenheiro respondeu: “Não, os 5 minutos e apertar o parafuso foi 1€. Os restantes 999€ foi por saber exactamente qual o parafuso a apertar”

Conhecimentos não é igual a sabedoria e ainda menos experiência. Pode ler 10 livros sobre andar de bicicleta e só vai saber fazê-lo depois de o tentar fazer várias vezes. Conhecimento é saber que o tomate é uma fruta. Sabedoria é saber que não se deve colocar numa salada de frutas.

Depois há pessoas que fazem uma consulta inicial e creem que com as orientações inicialmente fornecidas não há necessidade de “gastar mais” em consultas de acompanhamento. Já têm conhecimentos do que é mais importante do seu lado e desvalorizam a importância da reavaliação da evolução, ajustes e aplicação de diferentes estratégias de otimização metabólica em fases diferentes do processo.

Pegando no exemplo da dieta, o mais difícil não é iniciar um novo plano, mas sim mante-lo durante tempo suficientes para que produza resultados, e isto só acontece se houver um acompanhamento por quem sabe onde está o “tal parafuso” que possa estar despertado.

Depois como os objetivos não são atingidos por falta de acompanhamento, a pessoa sente-se constrangida por não ter respondido mais ao profissional e vai procurar outro para começar o processo de novo.

A obsessão do tempo, além do custo

Outra questão muito importante e errada é não associar o tempo efectivo de envolvimento com o cliente, que é convertido em mais valia.

Tive um professor na faculdade muito famoso e que até tinha um programa na televisão na altura. Ao fim de uma hora de aula saíamos de lá sem ter aprendido nada. Ele passava o tempo a falar dele e do seu enorme ego. Uma hora de envolvimento a troco de zero em termos de novos conhecimentos.

Geralmente vemos que os valores das consultas são, a título de exemplo, apresentados da seguinte forma: 35€, consulta de 30 minutos.

Se eu indicar que uma consulta minha tem o valor base de 70€,  para muitos já pode aparentar ser muito caro. Mesmo que na prática possa corresponder a 35h por hora em que o tempo é muito bem aproveitado. Ou que uma consulta apenas possa dar muito mais conhecimentos e ferramentas em vez de andar semanalmente em breves consultas que pouco ou nada acrescentam.

As minhas consultas podem ser extensas, de 1h:30 a 2h e não tenho definido à partida quanto tempo vou demorar. Quero saber tudo o que possa ser importante para o caso e objectivos. E antes de iniciar a consulta já tinha investido tempo a prepara-la. E depois da mesma ter terminado ainda volto a rever as orientações antes de enviar ficheiros em PDF com o resumo, planos, listas e recomendações.

É preciso ver o todo e tentar perceber o valor real. Tentar perceber o valor que se vai investir e o valioso retorno que se vai receber.

O que se inclui no preço

Há muito bons profissionais e o que os define como tal, não é o tempo de consulta nem o valor da mesma.

É a mais valia e a diferença que realmente vão fazer na vida das pessoas que acompanham.

Nos serviços que presto e no valor final que a pessoa paga, expressa-se também o seguinte:

  • Todo o investimento em formação, tempo de estudo, esforço, dedicação e dedicação ao longo de anos ou décadas.
  • O cuidado no contacto inicial dando todas as informações sobre o serviço, sem meias verdades e letras miudinhas
  • Preparação prévia da consulta e interpretação de análises e exames se existir
  • Ainda antes da consulta, garantir que estou atualizado e preparado para lidar com aquele caso, caso seja algo mais específico,  e estar em sintonia com os objetivos e expectativas do cliente
  • Em consulta, conhecer ao máximo a pessoa em todas as áreas da sua vida que possam estar relacionadas com o estado atual e futuro. Incluindo preferências de alimentos, tempo disponível, crenças e valores, níveis de stress, qualidade do sono, actividade, historial clínico, antecedentes, etc.
  • Interpretação de análises ou exames quando disponíveis.
  • Com base nos dados recolhidos recomendar análises e exames, encaminhamento para outras áreas e/ou abordagens
  • Envio de ficheiros com o resumo da consulta e dados recolhidos, orientações gerais e especificas, tabela de alimentos, suplementos, alterações ao estilo de vida.
  • Disponibilização de contactos para o esclarecimento de dúvidas e acompanhamento, no seguimentos do que foi previamente acordado
Para quem acha que tem acesso a tudo isto, pagando muito pouco, vai ter bastantes dissabores na sua demanda pelas respostas e acompanhamento que necessita.

Conclusão

Quando se procura por um bem ou serviço, deve-lhe olhar muito além do preço.

Deve-se sobretudo entender o valor real  que do que vai adquirir. Entender o que pode de positivo acrescentar à sua vida, em todos os aspectos.

This Post Has 3 Comments

  1. Sou a Isabelle Cunha, gostei muito do seu artigo tem muito
    conteúdo de valor, parabéns nota 10.

    1. Medicina Integrada Funcional

      Grato pelo feedback Isabel

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