Disruptores Endócrinos

São substâncias que funcionam como se fossem hormonas, ou seja, mimetizam a ação dos estrogénios e de outras hormonas no nosso corpo.

As hormonas dão os comandos às células, dizendo-lhes o que têm de fazer ligando-se a recetores específicos que são ativados ou desativados. Funcionam como uma chave específica para cada fechadura.

Cada hormona ativa o seu próprio recetor. Existem mais de 50 diferentes hormonas conhecidas no corpo humano que enviam mensagens aos recetores existentes nas diferentes células. A ativação dos recetores resulta em ações biológicas distintas, como ovulação ou alterações no nível de açúcar e insulina no sangue, da tiroide entre outras.

Os disruptores endócrinos imitam parcialmente a ação das nossas hormonas, como os estrogénios (hormona sexual feminina), os andrógenos (hormona sexual masculina), hormonas da tiroide, insulina, testosterona. Atuam como que se entrassem na fechadura sem dar ordem para abrir ou fechar a porta. O risco é acrescido porque, para além de não darem a instrução correta, não permitem que a verdadeira hormona se ligue ao recetor (a fechadura esta ocupada com uma chave falsa).

Ao ligarem-se ao recetor da hormona, os DEGs podem imitar o seu efeito, ou bloqueá-lo e originar processos anómalos, originando repercussões graves na nossa saúde por interferência hormonal errada.

 

O que os DE´s podem fazer

Os DE´s podem perturbar muitas hormonas diferentes, e por isso têm sido associados a inúmeros aspetos adversos à saúde humana, incluindo:

  • Alterações na qualidade e fertilidade do esperma
  • Anormalidades nos órgãos sexuais
  • Endometriose
  • Puberdade precoce
  • Função do sistema nervoso alterado
  • Função imunológica, certos tipos de cancro (hormonais mama, útero, ovários, próstata)
  • Alterações metabólicas como a diabetes, obesidade, problemas cardiovasculares, crescimento, deficiências neurológicas e de aprendizagem

Sendo uma área de estudo em grande desenvolvimento, seguramente que no futuro se descobrirão ainda mais efeitos da sua ação sobre a saúde.

Os DE´s têm três efeitos básicos:

  • Aumentam a expressão de uma hormona
  • Bloqueiam a sua atividade
  • Ou alteram o seu efeito.

A ação dos disruptores endócrinos é altamente preocupante uma vez que todas as nossas funções metabólicas são definidas pelas hormonas.

As exposições precoces têm sido relacionadas a alterações do desenvolvimento e podem aumentar o risco de várias doenças no futuro. Vários DE´s foram encontrados nas placentas, cordão umbilical e leite materno, o que mostra como a contaminação pode ser mesmo muito precoce.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) publicaram, em 2012, um relatório conjunto, intitulado Global Assessment of the State-of-the-science of Endocrine Disruptors, onde fica claro que os desreguladores endócrinos têm “efeitos subtis, mas duradouros, nos tecidos biológicos”, e que as “alterações hormonais que provocam vulnerabilizam o sistema nervoso”.

A gravidez é um momento de grande risco, porque “a transferência dessas substâncias da mãe para o bebé, mais tarde, vai produzir consequências adversas na saúde” da criança.

Onde se encontram

Existem espalhados por todo o lado.

Somos contaminados através da comida, do ar, da água e também através dos produtos que utilizamos diáriamente em cosmética e produtos de higiene como perfumes, antitranspirantes, shampoo, etc.

Devemos ter consciência dos locais onde existem para podermos limitar a exposição. Existem disruptores naturais e sintéticos como consta na tabela resumo anexa.

Disruptores Endócrinos

Disruptores Endócrinos

Os mais preocupantes e frequentes

· Plásticos – Especialmente quando são aquecidos, libertam bisfenol. Por exemplo, garrafas de água de plástico recipientes de plásticos em micro-ondas ou congelador, libertam Bisfenol ou BPA. É um produto químico produzido em grandes quantidades utilizado principalmente na produção de plásticos de policarbonato e resinas epoxídicas. O NTP Center para a Avaliação de Riscos à Reprodução Humana completou uma revisão do BPA em setembro de 2008. O NTP expressou “alguma preocupação pelos efeitos no cérebro, comportamento e próstata em fetos, lactentes e crianças com exposição humana atual ao bisfenol A.

· Materiais dentários – Amalgamas, resinas, adesivos pode também libertar Bisfenol ou BPA.

· Protetores solares – Muitos estudos têm sido publicados sobre o perigo dos protetores solares. A FDA (FDA – Food and Drug Administration), fez referência há bem pouco tempo a um estudo recente que conclui que basta um dia para as substâncias químicas presentes nos protetores solares penetrem no nosso sistema sanguíneo.

A análise feita por um grupo de investigadores, cujas conclusões foram publicadas na revista científica “Journal of the American Medical Association”, revela que há vários ingredientes dos protetores solares – sejam em creme, spray ou loção – que são absorvidos pela pele e penetram no sistema sanguíneo em doses acima das recomendadas pelos especialistas.

Os testes analisaram nomeadamente a concentração de ativos como a avobenzona, oxibenzona, octocrylene e ecamsule, tendo constatado que todos excederam as quantidades máximas. A oxibenzona, é o ativo que conta com mais evidência científica sobre o seu poder em atuar como disruptor hormonal. Esta substância foi encontrada em 96% da população, conclui um estudo recente do Center for Disease Control and Prevention. Esta conclusão é particularmente alarmante, pois a oxibenzona, por ter também a ação de disruptor endócrino, pode reduzir a contagem de espermatozoides em homens e pode contribuir para a endometriose em mulheres e cancros hormonais.

· Produtos de higiene e pasta de dentes – muitos cosméticos contêm na sua composição Parabenos, Triclosan ou Ftalatos que desempenham também ação de disruptor endócrino.

· Fármacos – Pílulas anticoncepcionais e terapia de substituição hormonal

· Químicos, pesticidas, herbicidas, fungicidas

· Materiais de embalagem – Desde embalagens de alimentos, produtos de higiene, etc.

· Alimentos – Muitos dos alimentos industrializados presentes na nossa alimentação atual, libertam dioxinas. Elas formam-se durante muitos processos industriais quando cloro ou bromo são queimados na presença de carbono e oxigénio. As dioxinas podem perturbar a delicada sinalização sistemas de hormonas sexuais masculinas e femininas no corpo.

Pesquisas recentes mostraram que a exposição a níveis baixos de dioxina no útero e no início da vida pode permanentemente afetam a qualidade do esperma e menor contagem de espermatozoides em homens durante os primeiros anos reprodutivos. As dioxinas são muito duradouras, se acumulam tanto no corpo e na cadeia alimentar, são carcinogénicas poderosas e podem também afetam os sistemas imunológico e reprodutivo.

Como afetam a saúde

Os disruptores endócrinos DE´s estão correlacionados com uma série de doenças mediadas por hormonas. Está cientificamente demonstrada a relação entre estas substâncias e malformações congénitas, distúrbios da reprodução, doenças imunológicas, neurológicas, metabólicas, com destaque para o cancro da mama, a obesidade e problemas da tiroide.

Trabalhos científicos associam a elevada concentração de disruptores endócrinos no cordão umbilical a um défice cognitivo aos 8 anos de idade.

A justificação poderá ser por a formação dos neurónios ocorrer in útero e ser desregulada o que poderá implicar más formações do ponto de vista funcional.

 Principais impactos no corpo:

 A ação dos disruptores endócrinos está associada a várias situações como:

  • Stress, alterações de comportamento e menos resistência ao stress.
  • A doença cardíaca ser a principal causa de morte e os números não pararem de aumentar nos países mais desenvolvidos onde a concentração de disruptores endócrinos é maior.
  • Alteração no metabolismo da tiroide e glicose (diabetes)
  • Aparecimento de diabetes tipo 2 em crianças ainda muito novas.
  • Alguns DE´s como DDT, BPA, ftalatos, PCBs e outros podem afetar a saúde do Sistema reprodutor por mimetizarem o efeito de hormonas sexuais. A crescente taxa de infertilidade pode estar relacionada coma exposição demasiada a disruptores endócrinos.
  • Crescimento e desenvolvimento: A alta exposição a DE´s durante a gestação pode levar ao baixo peso ao nascer, desenvolvimento alterado, desenvolvimento sexual interrompido e sistema imunológico débil.
  • Doenças neurológicas, défices de atenção, doenças psicológicas aparecem cada vez mais e mais cedo 
  • CancroA exposição ao estrogénio ou andrógeno mimetizando os DEQs pode promover o crescimento do cancro de mama, útero, ovário e próstata e / ou interferir na terapia hormonal do cancro.
  • A exposição pré-natal a alguns DEQs pode ocorrer após o desenvolvimento da glândula mamária e aumentar o risco de cancro de mama ao longo da vida.
  • Reduções na fertilidade masculina e declínio no número de bebes do sexo masculino.
  • Anormalidades nos órgãos reprodutivos masculinos.
  • Problemas de saúde reprodutiva feminina, incluindo problemas de fertilidade, puberdade precoce e senescência reprodutiva precoce.
  • A puberdade é cada vez mais precoce. As primeiras menstruações apareciam no tempo das nossas avós aos 16 anos e atualmente vemos meninas de 8 e 9 anos a menstruarem!
  • Aumento das doenças imunológicas e autoimunes e algumas doenças neuro degenerativas.

Como os evitar

Comida e água

  • Evite beber bebidas quentes, como o café e o chá, em copos de plástico
  • Leia os rótulos das comidas
  • Os peixes de alto mar são teoricamente mais seguros.
  • Opte por carnes de origem biológica
  • Lave bem as frutas e verduras antes de consumi-las
  • Não use recipientes de plástico para armazenar comida, especialmente se vai usar no mico ondas ou congelador
  • Reduzir o consumo de alimentos enlatados e processados
  • Use recipientes de vidro, porcelana ou aço inoxidável quando possível, especialmente para alimentos e bebidas quentes
  • Prepare mais refeições em casa e enfatize os ingredientes frescos.
  • Considere usar um filtro de água ou equipamento de purificação de água. Não use filtros de osmose inversa
  • Se possível, compre produtos orgânicos, carne, legumes e frutas
  • Substitua as antiaderentes antigas por panelas revestidas de cerâmica
  • Use utensílios ou objetos de madeira, porcelana, aço inoxidável ou vidro para cozinhar
  • Evite os materiais com antiaderente como teflon
  • Conserve os alimentos e aqueça a comida em recipientes ou pratos de cerâmica ou de vidro
  • Descarte utensílios de plástico lascados ou arranhados evite lavá-los com detergentes fortes ou na máquina de lavar

Cuidado pessoal

  • Leia os rótulos cosméticos e os constituintes das embalagens e evite produtos que contenham ftalatos. Não compre produtos de cuidado pessoal ou de limpeza que contenham compostos referenciados como desreguladores endócrinos
  • Escolha produtos com a etiqueta “livre de ftalato”, “livre de BPA” e “livre de parabenos”
  • Evite fragrâncias e opte por cosméticos rotulados “sem fragrância sintética”, “perfumados apenas com óleos essenciais” ou Biológicos
  • Lave as mãos com frequência, especialmente antes de preparar e comer alimentos
  • Minimize o manuseio de recibos e papel térmico.
  • Não use protector solar com filtro químico. Opte por filtros biológicos minerais. Pode misturar com óleo de coco
  • Evite ou elimine o uso de plástico. Verifique os brinquedos das crianças. Livre de BPA e Bisfenol

Referências

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